Por ROZEMBERGUE MARQUES*
No dia em que foi fotografado, saindo da Unidade de Terapia Utensiva (UTI) do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, ainda com os acessos dos aparelhos em parte do corpo, como pulsos e pescoço, o professor aposentado José Melin tinha muitos motivos para estar sorridente e feliz: acabara de passar., com sucesso, pela segunda operação de transplante de fígado: já ti8nha vivido a experiência em 2008 e em passou novamente pela expectativa da chegada do doador compatível(06 meses no primeiro e 11 meses no segundo) e pelo processo cirúrgico em . Foi obrigado a recorrer o transplante como última alternativa de recuperação de uma hepatite tóxica contraída durante um tratamento de dengue.
O jornalista conversou com Melin sobre todo o período que resultou na fotografia que ilustra a reportagem: desde quando soube que o transplante (uma cirurgia com potencias riscos, notadamente a rejeição pelo organismo) até como leva a nova vida: "Aceito o inevitável, mesmo hoje. O segredo é viver um dia de cada vez". A receita para não sucumbir ao desânimo ou desesperança enquanto espera um doador compatível e a saída da UTI, segundo ele é "ter fé e paciência, além de seguir à risca as orientações médicas".
O transplante realizado pelo professor Merlin por ter sido seguido um complexo processo que dá as diretrizes para realização de transplantes no Brasil e que precisa ser aprimorado. Dentre as regras a serem aprimoradas está um incremente maior para o TFD (Tratamento Fora de Domicílio) . O cadastro para inserção no programa TFD feito junto à Secretaria Municipal de Saúde, mediante apresentação de laudo médico e demais documentos. Quase ninguém usa essa verba porque desconhece a existência dela. É uma lei que é cumprida, inclusive pela Secretaria Municipal de Saúde de Dourados. No mundo dos transplantes há, efetivamente, uma corrida contra o tempo e o transporte é fundamental: o paciente candidato ao transplante é avisado, precisa ir até a unidade onde está o órgão doado, passar por uma bateria de exames e, confirmada a compatibilidade, ser encaminhado para cirurgia. O "detalhe" é que o paciente a ser submetido ao transplante não pode passar mais de 4 horas na unidade à espera. Isso gera uma "conta" que pode não fechar: e se o paciente não conseguir chegar a tempo, como é o caso dos pacientes do interior e que vão para as centrais de transplante em grandes centros? Outro dado importante e que faz parte da rotina de quem está na lista de espera: :ter sempre um telefone à mão. O professor Melin, por exemplo, recebeu a informação de que havia um órgão compatível com o seu às 4:00 horas da manhã.
De acordo com a ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos), 67% dos brasileiros têm o desejo de doar órgãos, mas apenas metade já avisou a família. Ainda conforme a ABTO, para ser um doador de órgãos e tecidos para transplante, pela legislação vigente, nenhuma declaração em vida é válida ou necessária. Não há possibilidade de deixar em testamento, não existe um cadastro de doadores de órgãos e nem são mais válidas as declarações nos documentos de identidade e carteiras de habilitação e nem as carteirinhas de doador. A entidade defende que aquele que deseja ser doador deve discutir o assunto, em vida, com os familiares.
Por aqui, quase cem sul-mato-grossenses tiveram uma nova oportunidade de vida com transplantes de órgãos. O procedimento e o tratamento pré e pós operatório foi custeado pelo SUS, como foi o caso do professor Melin.Dos 98 transplantes, 03 foram do coração, 79 de córnea e 16 de rim. O número de dadores de órgãos e tecidos em Mato Grosso do Sul, este ano, foi superior ao do ano passado, sendo 69 órgãos captados, 27 doadores de órgãos e 94 de córneas. Apesar do avanço, centenas de pessoas aguardam na fila de espera no Estado, sendo 04 pessoas a espera de um coração, 165 de córnea e 158 de rim.
Por meio de uma parceria entre o Município, Governo do Estado e Governo Federal, Dourados deverá ter, nas próximas semanas, uma Organização de Procura de Órgãos e Tecidos (OPO). Portaria publicada pelo Ministério da Saúde no dia 9 deste mês estabelece um incentivo financeiro para a implantação da estrutura, que poderá ser instalada junto a uma unidade hospitalar a ser definida, podendo ser o Hospital da Vida, Hospital Evangélico ou outra. A decisão do Ministério da Saúde atende a uma solicitação da Secretaria Estadual de Saúde (SES) encaminhada pelo secretário Geraldo Resende, com base em proposta apresentada e pactuada em março do ano passado na Comissão Intergestores Bipartite (CIB).
Em Mato Grosso do Sul, atualmente apenas em Campo Grande existe uma unidade da OPO. A de Dourados será a segunda instituição do gênero no Estado e, da mesma forma, será subordinada à Central Estadual de Transplantes (CET/MS).A Portaria do Ministério da Saúde estabelece um recurso financeiro no montante de R$ 20.000,00 a ser disponibilizado ao Estado de Mato Grosso do Sul e Município de Dourados, em parcela única, para a implantação da estrutura física (móveis e equipamentos) da OPO.A Organização de Procura de Órgãos e Tecidos é uma instituição ligada à Central Estadual de Transplantes e à Central Nacional de Transplantes, que é a responsável por informar a viabilidade de doador à Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos (CNCDO), que realiza a distribuição dos órgãos, indicado à equipe transplantadora responsável pela retirada e implante do mesmo. Uma notícia boa e que certamente vai contribuir de forma decisiva para que mais pacientes que depende de transplante possam sair das UTIs com o mesmo sorriso do professor Melin.
*JORNALISTA E VIOLEIRO
Legenda foto: Professor Melin: fígado "novo" e alegria ao sair da UTI
Fonte: Redação Mídia MS Digital e MS WEB RÁDIO/ Jornalista Rozembergue Marques