Um bilhete interceptado há pelo menos uma semana na Gameleira de Segurança Máxima, em Campo Grande, trazia ordens expressas para execução de policiais penais. Neste domingo (19), três agentes foram alvos de mais de 10 disparos de um grupo de criminosos, que seriam faccionados, de acordo com informações obtidas pelo Jornal Midiamax.
O bilhete manuscrito traz em alguns trechos: "destemido o papo é reto para seu XXX para XXX e seu XXX que pegar primeiro é para executar sem dó entendeu, pois referente ferramenta nós tem", dizia uma parte do bilhete. Por questão de segurança dos policiais penais, os nomes dos agentes alvos da execução estão suprimidos na matéria.
"Minha conta bruta é para pegar, pois me bateram lá na Máxima, e é para pegar sem dó, entendeu?", estava escrito no bilhete interceptado com um detento transferido do Presídio de Segurança Máxima para a Gameleira I.
A parte final do bilhete traz: "tem dois meses que estou mandando essas ideias, mano. Vê se tá tranquilo que vou chutar na mão dos guris, entendeu. Já tão demais no MS, está na hora de dar uma resposta a altura". Conforme escrito no bilhete que dava ordens de execução aos policiais penais que estavam na torre da Máxima, neste fim de semana.
O que seria um arremesso de celulares para dentro dos muros da Máxima, na realidade era o plano de execução dos policiais penais que já estava sendo planejado e dentro das celas dos presídios da Capital. Informações obtidas pelo Jornal Midiamax são de que a inteligência da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) havia interceptado o bilhete há pelo menos 1 semana, mas os agentes não teriam sido informados sobre as cautelas a serem tomadas.
Depois do tiroteio e morte de um dos criminosos em confronto com policiais do Batalhão de Choque acionados para ajudar, o Sinsapp (Sindicato dos Servidores da Administração Penitenciária de Mato Grosso do Sul) emitiu um alerta:
"O SINSAPP informa que há suspeita de um atentado ocorrido contra policiais penais na noite de sábado, 18 de maio, na Unidade de Segurança Máxima. Em função desse incidente, o SINSAPP exige uma resposta imediata da SEJUSP e da AGEPEN, visando a segurança de todos os servidores. É crucial que todos os policiais penais e demais servidores fiquem atentos e redobrem a cautela. O sindicato está comprometido em acompanhar o caso de perto e exigirá medidas efetivas para prevenir novos incidentes."
O presidente do sindicato, André Santiago, disse que irá pedir providências urgentes da Agepen e da Sejusp. "A Agepen não teve coragem de dar uma resposta imediata no combate ao crime organizado, como outros estados fizeram", disse. O presidente do sindicato ainda fala da necessidade de maior efetivo e da regulamentação da Lei dos policiais penais.
Os criminosos que estavam nos arredores do Presídio de Segurança Jair Ferreira de Carvalho, conhecido como Máxima, estariam tentando colocar em prática um atentado contra três policiais penais, que estavam no presídio. Os policiais penais foram alvo de cerca de dez disparos.
O tiroteio acabou em confronto com policiais do Batalhão de Choque e um dos criminosos morto. Policiais penais que estavam nas torres do presídio perceberam uma movimentação estranha em um matagal nas proximidades, quando viram dois homens tirando fotos de um dos agentes.
O policial acabou surpreendido por tiros disparados pelos autores ao direcionar a lanterna para averiguar o que estava acontecendo. Outro policial ao ouvir os disparos foi em direção para ver o que estava acontecendo quando dois homens que estavam na esquina da Rua da Conquista com a Rua do Bananal fez disparos em sua direção.
Bilhete encontrado anteriormente na Gameleira de Segurança Máxima já denunciou ameaça de morte a policiais penais em MS.
Então, após o episódio deste domingo (19), o diretor-presidente da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) Rodrigo Maiorchini, relatou que os procedimentos seguem "normais". Uma série de reportagens publicadas pelo Midiamax denunciou a entrada de celulares na Máxima.
Em nota a Agepen disse que está investigando os fatos ocorridos neste domingo:
"O serviço é de inteligência da Agepen está apurando as reais circunstâncias e motivações do ocorrido, quando criminosos foram flagrados tentando arremessar ilícitos para o interior do pátio da unidade prisional.
Para tanto, a Agepen tem adotado uma série de medidas para reforçar a segurança no local, entre elas a instalação de telamentos sobre os pavilhões, já em andamento, com o objetivo de coibir arremessos de ilícitos nos pátios.
Além disso, a Agepen já deu início a um treinamento de Plano de Defesa – Combate em Torre, a exemplo do que foi feito na Penitenciária da Gameleira 1, justamente para ações pontuais em situações semelhantes, por meio de sua Escola Penitenciária, e com o apoio de instrutores do Sistema Penitenciário Federal. Os servidores já receberam a parte teórica e agora farão a parte prática do treinamento.
Somado a isso, estão sendo adotadas medidas que, nesse momento, ainda devem ser mantidas em sigilo, por questões de segurança."
Sem bloqueadores de sinal e sem combate efetivo da corrupção entre servidores, as cadeias de Mato Grosso do Sul se tornaram verdadeiros escritórios conectados com o mundo para detentos que comandam organizações criminosas a partir das celas da Agepen (Agência Estadual de Administração Penitenciária).
Assim, esquema supostamente organizado em parceria entre presos faccionados e servidores da administração penitenciária corrompidos teriam transformado as "telecomunicações ilegais" um negócio milionário nas cadeias da Agepen.
Para funcionar, o esquema aproveitaria brechas intencionalmente mantidas. Dessa forma, o acesso de empresas terceirizadas, a "vista grossa" para o arremesso de pacotes para dentro dos presídios, a entrada de visitas e até mesmo de servidores que burlam revistas seriam os meios de colocar aparelhos celulares nas penitenciárias de Mato Grosso do Sul.
Portanto, não importa o tamanho da prisão, todas estariam comprometidas, mostram as inúmeras ocorrências policiais que apontam como mentores intelectuais detentos sob responsabilidade da Agepen. Isso sem falar dos constantes flagrantes de celulares e até explosivos "guardados" pelos bandidos na segurança das cadeias.
Conforme servidores da Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública), na cúpula da Agepen muitos embalam o discurso de que "se cortar celular, as facções acabam com as cadeias".
Assim, seria uma forma de manter o Estado refém dos detentos que se tornariam verdadeiros "sócios" do sistema altamente corrompido.
"Se quem tem que investigar quiser ir a fundo, vai achar muitos servidores com patrimônios incompatíveis com os salários oficiais. O negócio está descarado. Como o sistema prisional de MS sustenta presos de todo o Brasil que caem aqui por tráfico de drogas, essas cadeias da Agepen viraram uma mina de ouro", denuncia.
Aproximadamente 6 mil detentos têm acesso ao serviço garantido dos "voz", como são chamados os presos que mantêm e agenciam celulares. Dessa maneira, no complexo penitenciário da Máxima, em Campo Grande, por exemplo, basta ter dinheiro para pagar.
Fonte: Midiamax