Uma mancha de fogo com mais 500 quilômetros de extensão e mais de 400 quilômetros de largura tem avançado sobre a Amazônia, conforme captado pelo satélite europeu Copernicus. Na quinta-feira (29), o fenômeno cobria os estados do Amazonas, Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além de áreas do Peru, Bolívia e parte do Paraguai.
Segundo dados do programada BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Amazônia registrou mais de 61 mil focos de queimadas de 1º janeiro até sexta (30), enquanto o Pantanal contabilizou quase 9 mil focos. Os dois biomas estão no território que está sendo afetado pela mancha de fogo.
Abaixo, veja a situação dos estados onde a mancha de fogo foi registrada:
- Mato Grosso lidera em número de focos de incêndio no país, totalizando 24.880 de janeiro a agosto. Nesta sexta-feira (30), o estado também declarou situação de emergência por 180 dias, em resposta ao aumento significativo dos registros de focos de calor e incêndios florestais, com destaque para a região do Pantanal.
- No Amazonas, o total de focos de incêndio chegou a 14.483 de janeiro a agosto. O estado enfrenta uma crise ambiental grave, causada pela combinação de seca nos rios e queimadas. Todos os 62 municípios do Amazonas foram declarados em estado de emergência na quarta-feira (28).
- No Mato Grosso do Sul, o fogo tem devastado o Pantanal há mais de três meses, com um total de 9.938 focos de incêndio registrados. O estado foi um dos primeiros a declarar situação de emergência nas cidades afetadas pelos incêndios no Pantanal, ainda em 24 de julho.
- Rondônia também bateu recordes de queimadas, com o maior número de focos registrados em em um mês de agosto dos últimos cinco anos: 6.223. Nesta semana, o governo estadual implementou uma proibição do uso de fogo em todo o território por 90 dias. Além disso, o governo federal reconheceu a situação de emergência em 18 municípios de Rondônia devido à estiagem.
- O Acre registrou 2.654 focos de incêndio de janeiro a agosto. O estado declarou situação de emergência ambiental já em junho deste ano devido à diminuição das chuvas e ao aumento do risco de incêndios florestais.
O satélite Corpenicus aponta que a mancha de fogo tem se expandido com o passar dos dias. Na quarta-feira (28), o fogo se concentrava no Amazonas, em Rondônia e no Mato Grosso.
No entanto, o cenário mudou e o mapa mostra que Acre, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia estão formando, agora, um cinturão de fogo. O satélite também mostrou um crescimento de queimadas na região de Novo Progresso, no Pará.
Leonardo Vergasta, meteorologista do Laboratório do Clima (Labclim) da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), explicou que a mancha indica uma alta concentração de dióxido de carbono na atmosfera, resultado das queimadas que produzem essa fumaça.
"A formação de queimadas está diretamente relacionada a essa concentração de dióxido de carbono, que é um gás que está presente na atmosfera terrestre. A circulação do vento está normal, mas as queimadas persistem na Região Sul do Amazonas, no Acre e em Rondônia", afirmou.
Vergasta também destacou que a falta de chuva intensifica o problema.
"Regiões como Mato Grosso e Rondônia estão há mais de 90 dias sem chuva, enquanto o Sul do Amazonas e o Acre enfrentam uma seca de 7 a 21 dias. A ausência de chuva e as altas temperaturas durante a estação seca tornam a vegetação extremamente vulnerável às queimadas provocadas pela ação humana", explicou.
Fumaça pode voltar ao sul do país, diz especialista
A pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar, afirmou que os rios voadores corredores de massas de ar que transportam a umidade da Amazônia para outras partes do país podem contribuir para a dispersão da fuligem das queimadas. Na semana passada, uma nuvem de fumaça chegou até o sul do Brasil, afetando 10 estados.
"A Amazônia desempenha um papel crucial para o restante do país por meio dos rios voadores. Quando a região está muito seca, isso impacta esses rios voadores. Além de transportar a umidade, as massas de ar também carregam a fuligem, as partículas de aerossóis e outros materiais liberados pelas queimadas", explicou.
A pesquisadora também destacou os riscos que a Amazônia enfrenta se continuar experimentando ciclos mais frequentes de queimadas.
"A floresta amazônica não é adaptada ao fogo. Quando ocorrem incêndios, muitas árvores morrem, iniciando um processo de degradação. Se essa situação persistir, a degradação só tende a piorar, pois a floresta necessita de tempo para se recuperar", alertou.
"E com isso, o impacto é a mortalidade das árvores, tem impacto, ainda, no estoque de carbono, na biodiversidade em si e se esse fogo continuar recorrente, a floresta vai estar mais inflamável, e vai haver um empobrecimento da vegetação, e somente as espécies adaptadas a essas condições vão conseguir se estabelecer nesse lugar", finalizou.
g1