Os dados fazem parte de um levantamento produzido pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), que alerta para o aumento desse tipo de procedimento em todo o paĂs. De acordo com a entidade, hĂĄ estados onde o volume de amputações aumentou mais do que 200% de 2012 para 2013.
"Os dados sugerem uma alta progressiva no nĂșmero de amputações e desarticulações de membros inferiores no Brasil. O levantamento revela que os dados acumulados em 2023 projetam este ano como o pior da série histórica iniciada em 2012", destacou a entidade."A probabilidade desses nĂșmeros serem superados em 2023 jĂĄ é desenhada a partir dos dados dos 5 primeiros meses do ano. O levantamento aponta que pelo menos 12.753 cirurgias foram realizadas entre janeiro e maio deste ano, nĂșmero superior aos 12.350 registros para o mesmo perĂodo de 2022", alerta a entidade.
O estudo também acende um alerta para os cuidados voltados às doenças vasculares, como a sĂndrome do pé diabético. Dados da SBACV mostram que mais da metade dos casos de amputações envolvem pessoas com diabetes.
No entanto, esse tipo de cirurgia em membros inferiores pode também estar relacionado a outros fatores de risco, como tabagismo, hipertensão arterial, dislipidemia, idade avançada, insuficiĂȘncia renal crônica, estados de hipercoagubilidade e histórico familiar.
Outro dado preocupante apontado pela entidade envolve o desconhecimento por parte de pacientes sobre seu estado de saĂșde. No mundo, a estimativa é que uma em cada cinco pessoas não sabe que tem a doença. Com isso, muitos pacientes chegam ao consultório ou aos serviços de urgĂȘncia jĂĄ com complicações do quadro.
"Pacientes com diabetes e Ășlceras nos pés apresentam taxa de mortalidade duas vezes maior em comparação com pacientes diabéticos sem Ășlceras nos pés. Os submetidos à amputação maior de um membro inferior apresentam baixas taxas de sobrevida", explica a entidade.
Dados da SBACV mostram que cerca de 10% dos pacientes que amputam um membro inferior morrem no perĂodo perioperatório, que inclui a fase pré-operatória, a fase operatória e o pós-operatório. Além disso, 30% morrem no primeiro ano após a amputação; 50% no terceiro ano; e 70%, no quinto. "Esse percentual pode ser maior em paĂses em desenvolvimento, jĂĄ que a procura por assistĂȘncia médica costuma ocorrer quando a infecção da Ășlcera estĂĄ avançada".
O acĂșmulo de procedimentos realizados de janeiro de 2012 a maio de 2023, em nĂșmeros absolutos, tem maior expressão nas regiões Sudeste e Nordeste. A primeira é responsĂĄvel por mais de 42% de todas as cirurgias realizadas no Brasil, com um montante de 118.962 procedimentos. JĂĄ no Nordeste, 92.265 amputações ou desmobilizações de membros inferiores foram realizados nesse perĂodo. Na sequĂȘncia, vĂȘm o Sul, com 39.952 registros; o Norte, com 15.848; e o Centro-Oeste, com 15.546 registros.
De acordo com o levantamento, o Alagoas foi a unidade federativa que mais sofreu alta no nĂșmero de amputações, com crescimento de 214% na comparação entre o inĂcio e o fim da série histórica – um salto de 182 para 571 procedimentos.
Outros estados que registraram alterações expressivas no mesmo intervalo foram CearĂĄ, com variação de 175%; Amazonas, com alta de 120%; e Bahia e Rondônia, com crescimento de 83% na comparação entre 2012 e 2022.
Em contrapartida, Roraima e Pernambuco foram os estados onde se observa a menor alta no mesmo método de anĂĄlise, com crescimento de 12% e 18%, respectivamente.
Em nĂșmeros absolutos, os estados que mais executaram procedimentos de amputações de membros inferiores no SUS em 2022 foram São Paulo (59.114), Minas Gerais (29.851), Rio de Janeiro (24.465), Bahia (24.395), Pernambuco (18.523) e Rio Grande do Sul (16.269).
JĂĄ os estados com o menor nĂșmero de registros são AmapĂĄ (376), Roraima (398), Acre (688), Tocantins (1.356) e Rondônia (1.606).
O estudo destaca que, além de representar um grave problema de saĂșde pĂșblica, o aumento no nĂșmero de amputações traz fortes impactos aos cofres pĂșblicos, consumindo parte das verbas em saĂșde destinadas aos estados. Em 2022, foram gastos R$ 78,7 milhões em procedimentos desse tipo e, em toda a série histórica, foram gastos R$ 799 milhões, uma média nacional de R$ 2.962,28 por procedimento.
"No caso do diabetes, cujos pacientes são as maiores vĂtimas das amputações, descuido que para algumas pessoas são pequenos podem levar a grandes problemas. Um pequeno ferimento pode resultar em infecção, que evolui para um caso grave de gangrena, levantando ao risco de amputação", alerta a entidade.
De acordo com a SBACV, o diabetes impacta a circulação sanguĂnea e gera o estreitamento das artérias, causando redução dos Ăndices de a oxigenação e nutrição dos tecidos. Além disso, deformações nos pés e alterações de sensibilidade aumentam a chance do surgimento de pequenos ferimentos e potencializam sua evolução para casos mais graves.
Estudos apontam que 85% das amputações que tĂȘm relação com o diabetes tĂȘm inĂcio com uma lesão nos pés, que poderia ser prevenida ou tratada corretamente, evitando complicações.
A entidade considera que o atraso no diagnóstico da sĂndrome do pé diabético faz com que o paciente seja encaminhado ao especialista apenas quando o problema jĂĄ estĂĄ em estĂĄgio avançado. Pessoas com diabetes devem estar atentas aos cuidados relacionados ao controle do nĂvel glicĂȘmico no sangue e aos sintomas que podem ser observados em autoexames realizados diariamente.
"Grande parte dessas amputações poderiam ter sido evitadas a partir de prĂĄticas de auto-observação. O paciente bem informado, que se examina com frequĂȘncia, pode reconhecer a necessidade de uma intervenção precoce jĂĄ nos primeiros sintomas. Identificar sinais de alerta precoces é imprescindĂvel para reduzir a incidĂȘncia de complicações", recomenda.
Algumas medidas, segundo a SBACV, podem diminuir os riscos de complicações nos pés de pessoas diabéticas. Alimentar-se de forma equilibrada, praticar atividade fĂsica e manter o controle da glicemia, por exemplo, contribuem para uma melhora do sistema vascular como um todo.
O paciente com esse fator de risco também deve estar atento aos perigos de acidentes e adotar mudanças de comportamento, como evitar andar de pés descalços.
Confira outras medidas citadas pela entidade para a prevenção do pé diabético:
- Não fazer compressas frias, mornas, quentes ou geladas nem escalda pés. Por causa da falta de sensibilidade acarretada pela neuropatia, o paciente pode não perceber lesões nos pés;
- Usar meias sem costuras ou com as costuras para fora. Assim, o paciente evita o atrito da parte ĂĄspera do tecido com a pele;
- Não remover cutĂculas das unhas dos pés. Qualquer machucado, por menor que seja, pode ser uma porta de entrada para infecções;
- Não usar sandĂĄlias com tiras entre os dedos;
- Cortar as unhas retas e acertar os cantos com lixa de unha, com o devido cuidado;
- Hidratar os pés, jĂĄ que a pele ressecada favorece o surgimento de rachaduras e ferimentos;
- Nunca andar descalço. O paciente pode não sentir que o chão estĂĄ quente ou que cortou o pé;
- Olhar sempre as plantas dos pés e tratar logo qualquer arranhão, rachadura ou ferimento. Se não conseguir fazer isso sozinho, pedir ajuda a um familiar ou amigo;
- Não usar sapatos apertados ou de bico fino;
- Tratar calosidades com profissionais de saĂșde;
- Olhar sempre o interior dos calçados antes de usĂĄ-los;
- Enxugar bem entre os dedos após o banho, a piscina ou praia.
Fonte: AgĂȘncia Brasil/ redação MS Web RĂĄdio e Midia Digital