Dados da Organização Pan-Americana da SaĂșde (Opas) mostram que em 2021 apenas 37% dos adolescentes do sexo masculino receberam essa vacina no paĂs, enquanto o Programa Nacional de Imunizações (PNI) tem como meta imunizar 80% desse pĂșblico alvo.
A importância da imunização contra esse vĂrus na adolescĂȘncia se deve ao fato de que parte de seus sorotipos é considerada altamente cancerĂgena, e a proteção da vacina é maior se realizada antes do inĂcio da vida sexual, jĂĄ que esse vĂrus é causador de infecções sexualmente transmissĂveis (IST). A vacina também é considerada a forma mais eficaz de prevenção, jĂĄ que o HPV pode ser transmitido em relações sexuais mesmo com o uso de preservativo.A associação do HPV ao câncer supera a de outros agentes infecciosos conhecidos, como os vĂrus da Hepatite B e C, que podem causar câncer de fĂgado e leucemia; a bactéria Helicobacter pylori, associada a câncer de estômago, esôfago, fĂgado e pâncreas; e o vĂrus Epstein-Barr (EBV), cuja infecção pode evoluir para linfomas e carcinoma nasofarĂngeo.
A prevenção contra o HPV se torna ainda mais importante pela sua grande circulação. Segundo o Instituto Nacional de Câncer, estudos indicam que 80% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas por um ou mais tipos de HPV em algum momento de suas vidas, e essa porcentagem pode ser ainda maior em homens.
Estima-se que entre 25% e 50% da população feminina e 50% da população masculina mundial esteja infectada pelo HPV. A maioria dessas infecções, porém, é combatida espontaneamente pelo sistema imune, regredindo entre seis meses a dois anos após a exposição, principalmente entre as mulheres mais jovens.
A pesquisadora da Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede (Didepre) do Instituto Nacional de Câncer (Inca), FlĂĄvia de Miranda CorrĂȘa, conta que o HPV é o agente infeccioso que tem mais associações ao câncer descritas pela medicina.
Na mulher, esse vĂrus é o principal causador do câncer de colo de Ăștero e também estĂĄ relacionado a câncer na vulva e vagina. No homem, cerca de metade das neoplasias no pĂȘnis partem de uma infecção pelo HPV. Além disso, em ambos, o câncer de ânus e de garganta (orofaringe), também entram na lista.
"O HPV é um vĂrus sexualmente transmissĂvel. Então, a transmissão se dĂĄ no contato da pele com a pele, mucosa com mucosa, pele com mucosa", explica a pesquisadora, que por isso afirma que a vacinação é a principal forma de proteção contra o vĂrus.
"A camisinha protege só o pĂȘnis. Ela não vai cobrir a bolsa escrotal, não vai cobrir o ânus, não vai impedir o contato da pele com a pele. E também não é comum que se use camisinha desde o inĂcio da relação sexual, em massagens, por exemplo. É claro que ela deve ser utilizada porque diminui a possibilidade de contĂĄgio, não só pelo HPV, mas por outras infecções. Mas ela não é garantia de que não vai haver infecção pelo HPV".
A vacina contra o HPV deve ser aplicada em meninos e meninas de 9 a 14 anos, em um esquema de duas doses. A segunda dose deve ser aplicada seis meses após a primeira. Essa vacina protege contra os vĂrus dos sorogrupos 6, 11, 16 e 18, sendo os dois Ășltimos os principais causadores de câncer.
"A vacinação antes da exposição ao vĂrus é a melhor maneira de evitar a infecção. A vacina é altamente eficaz e contém os vĂrus mais prevalentes", afirma ela, que reforça a necessidade da vacinação na idade recomendada pelo PNI:
"A vacina vai ser eficaz se a pessoa ainda não tiver tido contato com aqueles vĂrus presentes na vacina. Ela previne, ela não trata. Além disso, a resposta imunológica é melhor nos jovens, quanto mais cedo a vacinação for aplicada, eles desenvolvem uma resposta melhor".
PaĂses que iniciaram a vacinação contra o HPV hĂĄ mais tempo que o Brasil, como a AustrĂĄlia, jĂĄ tĂȘm evidĂȘncias de que a imunização reduziu a incidĂȘncia dos casos de verrugas, lesões precursoras e do próprio câncer. "Para a gente falta um pouco, até porque nossa cobertura não estĂĄ excelente", diz FlĂĄvia.
O câncer cervical, associado ao HPV em mais de 80% dos casos, é uma das principais causas de mortes de mulheres, segundo a Organização Pan-Americana de SaĂșde. Sete em cada 10 casos desse tipo de câncer são resultado de infecções persistentes pelos vĂrus HPV-16 e HPV-18, e 15% são causados pelos tipos HPV-31, 33, 45, 52 e 58.
Nas Américas, a cada ano, cerca de 83 mil mulheres são diagnosticadas com câncer cérvico uterino e mais de 35 mil mulheres morrem pela doença - mais da metade, antes dos 60 anos.
A pesquisadora do INCA explica que a evolução desses casos depende muito do quão rĂĄpido eles são diagnosticados. Quanto mais precoce for a detecção, maior a chance de cura e menor o sofrimento do paciente. Além de salvar a vida, a rapidez no diagnóstico também reduz a possibilidade de sequelas, como cirurgias mutiladoras nos órgãos afetados.
"No câncer do colo de Ăștero e de ânus, que tĂȘm lesões precursoras, lesões malignas, a gente pode tratar essas lesões precocemente e o câncer nem se desenvolver. Para o câncer de colo do Ăștero tem o rastreamento, que permite detectar essas lesões ou o câncer em estĂĄgio inicial", explica.
"Se for identificado em estĂĄgio avançado, vão ser necessĂĄrias cirurgias mutiladoras, pode ocorrer uma sobrevida com pouca qualidade de vida, e um maior risco de mortalidade. Por isso, a gente tem que pensar que a vacinação tem esse benefĂcio enorme, não só para as mulheres".
Uma pessoa infectada pelo vĂrus HPV deve tratar os sintomas para evitar que eles possam evoluir para um quadro de câncer. A presença do vĂrus pode demorar anos para se manifestar e costuma ser detectada pela presença de verrugas ou lesões na pele das mucosas.
Não hĂĄ tratamento especĂfico para eliminar o vĂrus, e o manejo da doença se concentra em combater as verrugas, dependendo da extensão, quantidade e localização das lesões. Podem ser usados laser, eletrocauterização, ĂĄcido tricloroacético (ATA) e medicamentos que melhoram o sistema de defesa do organismo. Em geral, o tratamento é feito com ginecologistas, urologistas ou proctologistas, mas outros especialistas também podem ser necessĂĄrios.
Fonte: AgĂȘncia Brasil/ redação MS Web RĂĄdio e Midia Digital