POR ROZEMBERGUE MARQUES*
A cada dia a cena tem sido mais corriqueira nas calçadas de Dourados: ao invés do tradicional tereré, rodas são formadas, inclusive por adolescentes e até crianças, para usar o narguilé, um conjunto de origem indiana (mais tarde introduzido na China para fumar ópio) formado por uma peça central, que parece um vaso, onde se coloca a água. Conectada à base está uma peça cilíndrica que sustenta o fornilho, onde se coloca o tabaco, e em cima do tabaco, o carvão. A mangueira, por onde se aspira a fumaça, resfriada e filtrada pela água, que retém algumas partículas sólidas. A fumaça segue pelo tubo até ser consumida pelo usuário com o sabor da essência escolhida, sendo 400 vezes mais perigoso do que um cigarro.
"Isso é preocupante. Em virtude da mistura de inúmeras essências, o narguilé tem aromas variados. É feito com um fumo especial (um melaço, subproduto do açúcar). Os sabores mais conhecidos, são: pêssego, maçã-verde, coco, flores e mel, o que aumenta seu potencial viciante. O que os adolescentes ou mesmo adultos não sabem é que o narguilé, também conhecido como 'hookah' nos países de língua inglesa, ou por 'shisha' no norte da África, pode causar diversas doenças, sendo as respiratórias as mais comuns", alerta o pediatra Eduardo Marcondes, em diapasão com os espcialistas em doenças respiratórias, advertem que 50 tragadas são suficientes para viciar. Isso ocorre devido à nicotina, que causa a chamada sensação de bem-estar. Estudos recentes contrariam a crença popular de que a água ajudaria a filtrar as impurezas do fumo, tornando-o menos nocivo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta que a fumaça inalada em uma sessão de narguilé, que pode durar entre 20 minutos e uma hora, corresponde à inalação de 100 a 200 cigarros. E são consumidos até 10 litros de fumaça, pois a presença da água faz com que se aspire mais fumaça, que se torna mais tolerável. Dessa maneira, inala-se maior quantidade de toxinas.
"Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o compartilhamento da piteira e da mangueira também pode ter sérias consequências. Em países onde o uso é acentuado, como na Índia, existe um alto risco de transmissão de hepatite A, herpes, tuberculose e outras doenças infecciosas. O que muitos pensam erroneamente é que esse tipo de fumo não é tão prejudicial à saúde. Longe disso: por conter diversas toxinas, o narguile pode causar câncer de pulmão e doenças cardíacas", continua Marcondes. "O fumo utilizado no narguilé contém as mesmas substâncias tóxicas do tabaco (nicotina, alcatrão, monóxido de carbono, que tira o oxigênio das células) e sua fumaça contém também os aditivos aromatizantes e substâncias nocivas do carvão. Causa, portanto, dependência, perda de dente, câncer de boca e todos os riscos do tabaco à saúde: doenças respiratórias, câncer e doenças cardiovasculares", alerta.
As "rodinhas" que vem sendo verificadas de forma espiral em Dourados, não obstante as diversas leis municipais restritivas ao uso e comercialização de produtos ligados Narguilé (essências, carvões e etc) só aumentam as estatísticas: quase 300 mil pessoas em todo o país consomem o narguilé, segundo a Pesquisa Especial sobre o Tabagismo (PETab), realizada pelo Inca junto com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número equivale a uma cidade do tamanho do Guarujá, no litoral de São Paulo, também segundo dados do IBGE. O uso de água no recipiente do narguilé proporciona uma sensação agradável aos usuários, mas que mascara a quantidade de toxinas inaladas. A presença da água faz com que se aspire ainda mais a fumaça, dando a impressão que o organismo fica mais tolerante, o que é um equívoco. Em uma hora, uma pessoa chega a dar mil tragadas em um narguilé. O processo gera uma fumaça inalada igual a uma centena de cigarros comuns ou mais, como citei acima.
Frente ao crescente aumento de jovens que experimentam e fazem do narguilé um hábito, e do surgimento de restaurantes e casas noturnas especializadas em fornecer o artefato, a ANVISA alerta que os dias do consumo do fumo podem estar contados. A posição do Instituto Nacional do Câncer (INCA) reforça a resolução da ANVISA. No site do Instituto, o narguilé é assunto de diversos artigos e denominado "lobo em pele de cordeiro". Reforçar as políticas de educação em saúde, iniciando na pré-escola, mostrando todos os malefícios do uso do tabaco, oferecer tratamento adequado aos dependentes, proteger os não fumantes, coisas que o Brasil é líder mundial, são os melhores caminhos para evitar que esse que parece ser um hábito inocente e de convívio social ceife vidas em curto espaço de tempo.
"O narguilé deveria ser proibido por ser, muitas vezes, a porta de entrada para o tabagismo entre os jovens. A conscientização, reitero, é o melhor caminho. E os exemplos devem começar em casa: se ver seu filho em uma roda de narguilé, oriente-o. O narguilé é, como alerta o INCA, um "lobo em pele de cordeiro", " finaliza o pediatra. Em diversas cidades, como Campo Grande , o uso do que o médico chamou de "Lobo em pele de cordeiro já éproibio em vias públicas, as tradicionais "rodinhas" citadas no início da entrevista.
*JORNALISTA E VIOLEIRO
Redação do Mídia MS Digital/ Jornalista Rozembergue Marques