Por Rozembergue Marques*
Ilson Venâncio, o "Boca", é uma das personalidades mais emblemáticas da história artística-cultural de Dourados. Douradense da gema, nascido há 61 anos, cultiva até hoje uma ligação umbilical entre a cidade e o campo. Essa miscigenação ambiental resultou no livro "Dourados e sua Cultura – Memória das Artes Comentada". É certamente o mais completo compêndio sobre a cultura da segunda maior cidade do estado.
Tranquilo, sereno e adepto de uma boa prosa, "Boca" desde cedo se enveredou nas trilhas do universo cultural. Conhece como ninguém todas as nuances do complexo mundo dos artistas de Mato Grosso do Sul. É amigo e muito querido dos artesões, músicos, escritores, jornalistas, artistas plásticos, atores, enfim, da intelectualidade sul-mato-grossense.
Ele mesmo é um artista nato, tendo atuado em bandas, peças de teatro. É também compositor e hábil articulador na produção de eventos culturais como o lendário "Show da Paz". Entre a década de 70 e 80, do século passado, "Boca" curtiu a experiência de morar em São Paulo. Na capital paulista, no auge dos anos de chumbo da ditadura militar, participou de shows, eventos e protestos. Talvez a efervescência cultural e política daquela época tenha contribuído por não concluir a faculdade de Jornalismo. Voltou para Dourados sem o canudo, mas muito mais vivido. No entanto, reza o dito popular que o mundo dá muitas voltas e o tino jornalístico aflorou décadas depois.
Em 2010, convidado pelo jornalista José Henrique Marques, diretor da Folha de Dourados, "Boca" passou a publicar semanalmente artigos culturais no jornal, através de relatos narrativos com mais de uma dezena de personagens da história cultural do município remanescentes do eixo zona rural-cidade. Durante quatro anos, os folhetins semanais produzidos por Ilson Venâncio resgataram boa parte da história testemunhal, através de entrevistas com os artistas protagonistas, e também fotográfica, já que pinçou dos arquivos pessoais muita preciosidade não só da história cultural, mas da história em si de Dourados. Ator, compositor, músico, artesão e produtor, com o livro Boca incluiu em seu currículo mais um viés cultural: escritor. Os mais de 130 folhetins publicados entre 2010 e 2013 se transformaram no livro "Dourados e sua Cultura – Memória das Artes Comentada",
É uma obra que somente "Boca" poderia criar. O diferencial, que a rigor ninguém mais está capacitado de executar, é que o autor viveu, foi contemporâneo da vida dos artistas e de Dourados. Os folhetins não se limitam apenas a transcrever as história versadas pelos entrevistados. Afinal, como eles, Boca é um artista perspicaz e de memória aguçada, que temperam os textos. O livro "Dourados e sua Cultura – Memória das Artes Comentada" é uma contribuição valorosa à história de Dourados e, com certeza, uma fonte preciosa de consulta estudantil.
*Jornalista e violeiro
Fonte: Redação MS WEB RADIO/ Jornalista Rozembergue Marques