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Lei de Cotas vai permanecer de qualquer maneira, afirma ministra

Cotas privilegia raça e não a meritocracia

Por Antonio Neres em 04/04/2023 às 20:56:31

Salão Pedro Calmon ficou lotado para acompanhar aula da ministra da Igualdade Racial - Tânia RĂȘgo/AgĂȘncia Brasil

Dirigindo-se aos alunos, a ministra destacou que, muitas vezes, ouviu comentĂĄrios racistas e desqualificadores, questionando o fato de ela saber falar inglĂȘs, que aprendeu ao receber uma bolsa para estudar nos Estados Unidos como jogadora de vôlei, e ser da favela da Maré. "Quando retornei ao Brasil e entrei para a Uerj, eu ouvi: VocĂȘ não deve falar inglĂȘs. VocĂȘ vai vir para cĂĄ? Cotista? VocĂȘ passou em primeiro lugar com cota? Como pode isso? Como pode ser da favela da Maré e falar inglĂȘs?"

Com o Salão Pedro Calmon, no prédio da reitoria da UFRJ no Campus Praia Vermelha, lotado, e como professora desde os 17 anos, Anielle Franco recomendou aos alunos intensificar o conhecimento. "Não importa se vocĂȘs debatem com professor racista. O conhecimento de vocĂȘs ninguém tira. Ninguém sabe o que é pegar dois ônibus e um trem [para ir à universidade], mas vocĂȘs sabem. Quando a gente fala de Lei de Cotas e de [Lei] 10.639, sabe porque muitas dessas leis não foram aplicadas como deveriam. Por conta do racismo. A gente precisa ter docentes preparados para lidar com estudantes negros. Eles precisam ter empatia", enfatizou.

"É inadmissĂ­vel em 2023 ter professor racista. Às vezes, o professor chega à sala de aula e não entende o que é ter um aluno que veio lĂĄ de Magé [região metropolitana do Rio], de Belford Roxo [na Baixada Fluminense]. A gente sabe o que é porque passa por isso", disse Anielle, recordando ainda a dificuldade de alunas mães que precisam levar os filhos para a universidade porque não dispõem de creches.

Decreto

Na palestra, a ministra destacou a assinatura do decreto presidencial que estipulou o percentual de 30% de ocupação de cargos de comissão e funções de confiança por pessoas negras no Poder Executivo, incluindo administração direta, autarquias e fundações. Segundo Anielle, a medida nunca tinha sido adotada. "A importância disso, gente, desse ato polĂ­tico é imensurĂĄvel. A gente vai ter pela primeira vez 30% na Esplanada", afirmou.

Anielle pediu que os estudantes não desistam de seus planos ao enfrentar situações de racismo e deu um recado: "Colocar racistas no lugar, porque racista a gente trata assim: coloca no lugar". E completou: "A gente bota no lugar com o nosso conhecimento."

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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