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A disputa, porém, limita-se à água. Fora dela, os dois possuem uma forte amizade, com laços estreitados pelo esporte e pelas origens. Natural de Itaquiraí (MS), Fernando atuava em rodeios até 2005, quando foi atropelado por um ônibus e lesionou a medula, ficando paraplégico. Já Igor é de Cambé (PR) e foi peão por nove anos, até sofrer uma queda na arena e levar um pisão de um touro em 2011, fraturando a coluna. Atualmente, treina em Londrina (PR), a 420 quilômetros de onde mora o Cowboy.
“Aprendi com meu primeiro treinador que o esporte é passageiro, mas que as amizades ficam. Dentro da água, o pau tora. Fora, toma café junto e escuta nossas modas de viola. A gente é bem ligado, temos uma amizade gostosa, saudável, sem pilantragem, o que é muito importante. Nosso dia a dia é praticamente igual. Tiramos leite [de vaca], fazemos cerca, mexemos com cavalo, com arame, um manda vídeo para o outro”, contou Fernando à Agência Brasil.
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“Apesar de competirmos na mesma categoria e brigarmos de igual para igual nos treinos e competições, nossa origem é praticamente a mesma. Isso faz com que as coisas fiquem mais leves, a rotina seja mais gostosa e consigamos conciliar tudo isso. Viver em um ambiente em que você tem um parceiro de treino, um atleta que é da mesma cultura sua, é muito bacana”, completou Igor.
Se em Tóquio quem competiu foi Fernando, cinco anos antes, o representante sertanejo na Paralimpíada do Rio de Janeiro foi Igor. Apesar de o Cowboy ter conquistado a vaga do Brasil no KL2 (prova de caiaque para atletas que usam braços e troncos para a remada) no Mundial de 2015, em Milão (Itália), um problema cardíaco fez com que ele fosse cortado a somente dois meses dos Jogos, dando lugar justamente ao Peão das Águas, que chegou à semifinal paralímpica.
“Na Paralimpíada [do Rio], tinha que ter um boiadeiro [risos]. Acompanhei o Igor nos treinos, na preparação, conversamos, estivemos juntos nos Jogos. A gente é professoral”, lembrou Fernando.
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“O momento mais bacana que vivi foi no Rio, participar daquela edição dos Jogos e poder representar um atleta tão forte como ele [Cowboy], apesar de ser um momento muito delicado da parte dele. Eu me doei e fiz o que pude para representar o Brasil e um atleta como o Fernando Rufino. Foi gratificante”, recordou Igor.
Com o início promissor dos boiadeiros da paracanoagem na trajetória rumo a Paris, a expectativa de uma dobradinha no pódio em 2024 é real. O Mundial do ano que vem, em Duisburg (Alemanha), definirá os primeiros classificados. Os Jogos na capital francesa reunirão cem atletas (50 homens e 50 mulheres) em dez classes (cinco por gênero). O Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês) ainda anunciará os critérios para obtenção das vagas.
“Acredito que o Brasil terá dois atletas muito fortes na VL2, que vestem a camisa, tanto eu quanto o Rufino, em treino e competição, no frio e na chuva. Estamos todo dia trabalhando para representar muito bem o país. Podemos ter um ótimo resultado em Paris e trazer medalhas, o que seria um feito muito bacana”, projetou o Peão das Águas.
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“Temos na [canoagem] olímpica o Isaquias [Queiroz] e o Erlon [Souza] como referências. Na paracanoagem, temos eu e o Igor. Quem será o campeão? É na água que decidirá. Eu entrarei para ganhar e ele também. [O Igor] é um atleta que tem meu respeito, que veste a camisa. Para ganhar dele, tenho que estar muito bem. Se errar, vou perder. Podemos estar os dois em Paris e disputar o topo lá”, concluiu o Cowboy de Aço.
Em Tóquio, o Brasil foi três vezes ao pódio. Além do ouro de Rufino, também chegaram lá o piauiense Luís Carlos Cardoso (prata na KL1, caiaque para canoístas que utilizam somente os braços na remada) e o paranaense Giovane Vieira de Paula (bronze na VL3, canoa para atletas sem deficiência nos membros superiores e com função parcial nos inferiores). Com sete representantes na capital japonesa, o país ficou em terceiro no quadro de medalhas, atrás somente de Reino Unido (líder) e Austrália (segunda).
Agência Brasil